15 de outubro de 2015

Luiz Carlos Miele e seu legado imensurável

Luiz Carlos d’Ugo Miele morreu nesta quarta-feira, 14, aos 77 anos.
Reconhecido como um dos maiores showman brasileiros, sua trajetória profissional contribuiu para moldar a maneira como os espetáculos musicais e programas de televisão evoluíram em cadeia nacional. Desde sua estreia, na TV Continental, em 1965, Miele atuou energicamente na produção de alguns dos maiores sucessos do entretenimento televisivo das mais diversas emissoras. Em quase 65 anos de carreira, ele foi também uma figura importante para estruturar consagrados artistas da música brasileira a partir de produções grandiosas.
Seu primeiro trabalho foi em uma rádio em São Vicente, aos 14 anos (Reprodução)
Seu primeiro trabalho foi em uma rádio em São Vicente, aos 14 anos (Reprodução)
Miele começou a atuar como assistente de estúdio no programa “Teledrama Três Leões”, da TV Paulista, no início da década de 1950. Em 1959, mudou-se para o Rio de Janeiro, para trabalhar na TV Continental, onde evoluiu para diretor de estúdio e assistente de direção. Em entrevista para o site Memória Globo, Miele explicou que depois que a situação da emissora melhorou, ele deixou o bairro do Catete, onde dividia um apartamento com outros seis rapazes, para morar em Ipanema. A mudança permitiu que ele se aproximasse dos principais intelectuais cariocas, o que depois originou a criação do “Documentário de Arte” na emissora.
Miele ao lado de Elis Regina (Reprodução)
Miele ao lado de Elis Regina (Reprodução)
Em 1950, Miele conhece uma importante figura em sua trajetória profissional: Ronaldo Bôscoli. Repórter da revista Manchete, ele era um dos nomes mais envolvidos na divulgação da bossa nova e permitiu que Miele se aproximasse dos mais importantes nomes da música da época. Um ano depois do encontro, Miele criou o programa “Noite de Fala”, na TV Rio, para onde conseguiu levar nomes como Silvinha Telles e João Gilberto.
Miele foi compôs música, foi intérprete e produtor de grandes artistas (Reprodução)
Miele foi compositor, intérprete e produtor de grandes artistas (Reprodução)
Com o sucesso na televisão, Bôscoli convidou Miele para organizar a produção de shows no Beco das Garrafas, grande reduto da música nacional, onde se apresentavam artistas como Sérgio Mendes, Tamba Trio, Elis Regina e Wilson Simonal. Não demorou muito para que a dupla se tornasse uma das mais importantes do show business brasileiro, trabalhando com os artistas mais renomados da época, como a própria Elis Regina e Roberto Carlos.
Ao lado de Pelé e Roberto Carlos (Reprodução)
Ao lado de Pelé e Roberto Carlos (Reprodução)
Seu retorno para a televisão aconteceu em 1965, quando produziu, ao lado de Bôscoli, o “Alô, Dolly”, para a Rede Globo. “Dick & Betty 17” e “Um Cantor por Dez Milhões, Dez Milhões por uma Canção” foram outras atrações musicais que estrearam na emissora e alcançaram grande sucesso de audiência. Além do envolvimento com a música, Miele migrou para outros canais nos anos seguintes, produzindo quase uma dezena de programas, como “Cara & Coroa”, da TV Rio, “Os 7 Pecados”, da TV Excelsior, e “O Fino da Bossa”, da TV Record.

Estreia como apresentador

No ar em "Mister Show", seu primeiro trabalho como apresentador (Cedoc/TvGlobo)
No ar em “Mister Show”, seu primeiro trabalho como apresentador (Cedoc/TvGlobo)
Miele saiu de trás da câmeras em 1970, quando voltou para a Globo para apresentar “Mister Show”, substituindo Agildo Ribeiro. Além do trabalho no palco, ele continuou dirigindo especiais na televisão: produziu dois programas com Elis Regina, em 1971 e 1972; criou o “Viva Marília”, com Marília Pêra, também em 1972; e compôs a música de abertura para o “Show da Girafa”, programa de variedades de Murilo Néri e Sandra Bréa.

Musicais

Miele e Ronaldo Bôscoli também trabalharam juntos na criação dos famosos musicais do “Fantástico”, que estrearam em 1973. Em 1976, ele voltou para a frente das câmeras com o musical “Sandra & Miele”, onde dividia o palco com Sandra Bréa em histórias inspiradas em filmes de Hollywood e shows da Broadway.

Humorista

Miele em "Praça da Alegria" (Cedoc/TV Globo)
Miele em “Praça da Alegria” (Cedoc/TV Globo)
O lado cômico de Miele pode ser visto na televisão na década de 1970. Ele fez participações em “Faça Humor, Não Faça Guerra”, “Satiricom” e “Planeta dos Homens”. Ele também fez alguns monólogos no “Fantástico”, aparecia no banco da “Praça da Alegria”, e dirigiu o especial “Raul Solnado – O Descobrimento do Brasil”, estrelado pelo humorista português.

Apresentador e ator

Miele com as bailarinas do programa "Coquetel" (Reprodução/SBT)
Miele com as bailarinas do programa “Coquetel” (Reprodução/SBT)
Nos anos seguintes, Miele voltou a trabalhar na frente das câmeras e foi apresentador dos festivais de música MPB 80 e MPB Shell 81, um dos convidados para apresentar o “Show do Mês”, em 1981, e comandou, no ano seguinte, a “Batalha dos Astros”, em que famosos disputavam partidas de jogo-da-velha.
Em 1985 trabalhou no “Miele & Cia” e “Ele & Ela”, ambos da TV Manchete. Em 1992, estrou no SBT com o sucesso “Cocktail”. Depois de sair da televisão para filmar “O Homem Nu”, de Hugo Carvana, voltou para a TV Educativa do Rio em 2002, onde apresentou “A Vida É Um Show”.
Na pele de Walter Game, da novela “Geração Brasil” (Reprodução/TvGlobo)
Na novela “Geração Brasil” (Reprodução/TvGlobo)
Em 2005, ele atuou na televisão como o advogado Wexler, do seriado “Mandrake”, baseado nos contos de Rubem Fonseca. Em 2008, participou de um episódio do seriado “Casos & Acasos” e, em 2011, de “Tapas & Beijos”. No ano seguinte, atuou em “O Brado Retumbante”, na pele de um político corrupto. Em 2014, interpretou o milionário Jack Parker na novela “Geração Brasil”.

Outras artes

No musical "O Mágico de Oz", produzido em 2012 (Divulgação)
No musical “O Mágico de Oz”, produzido em 2012 (Divulgação)
Luiz Carlos Miele também foi o apresentador oficial do Moliére, maior prêmio do teatro brasileiro, por dez anos. Além disso, foi compositor e gravou com Cauby Peixoto e Elis Regina. Nos palcos, se apresentou como crooner da Rio Jazz Orquestra e no espetáculo “Benção Bossa Nova”, ao lado de Roberto Menescal e Wanda Sá.
Miele lançou o livro “Poeira de Estrelas: Histórias de Boemia, Humor e Músicas” em 2004 e o DVD “Miele, um Showman Brasileiro” no ano seguinte. No cinema, além de atuar em “O Homem Nu”, ele participou de “A Casa da Mãe Joana”, de Hugo Carvana, de “As Aventuras de Agamenon, o Repórter”, de Victor Lopes, e de “Os Penetras”, de Andrucha Waddington.

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