Em Grotas, pelo menos para Afrânio
(Antonio Fagundes), toda a lógica do coronelismo é mantida. O coronel
imposto pela vida ao jovem romântico, assume agora o papel de
antagonista. “Este personagem acaba sendo uma figura muito peculiar,
reunindo em si mesmo muitas questões contraditórias.
É a figura mítica
do imperador sertanejo, talvez ainda mais poderoso e rico do que os
políticos de sua região. Ama a filha Maria Tereza (Camila Pitanga), ao
mesmo tempo em que é o seu maior antagonista. Seus métodos e
procedimentos em relação à natureza e, principalmente, ao rio São
Francisco, são antiquados e predatórios. É um vilão, mas humano, real”,
descreve o diretor Luiz Fernando Carvalho.
Depois de tantos anos, o coronel traz na
bagagem uma série de dramas familiares: o filho mais novo, Martim (Lee
Taylor), foi expulso de casa por não aceitar os métodos de Afrânio, o
patriarca; Maria Tereza luta frontalmente contra os procedimentos
adotados pelo pai em relação à cultura ribeirinha. Ela, como uma
verdadeira heroína, vai tentar de todas as formas ‘arrancar’ esta
máscara de coronel de seu pai. E Miguel (Gabriel Leone), seu neto, volta
de Paris com ideias de reformular completamente os métodos arcaicos do
avô.
Apesar do grande amor que os dois nutrem
um pelo outro, as discordâncias profundas levarão Saruê a mais um
embate dramático dentro da própria família. “Ele é um representante
desta antiga mentalidade feudal e machista, em contraponto a esta nova
geração. É uma contraposição delicada, especialmente porque se dá no
âmbito familiar”, pontua Luiz Fernando Carvalho.
Do outro lado, Santo (Domingos
Montagner), o humanista, que carrega os ideais do falecido Capitão Rosa.
Casou-se, não exatamente por amor, com Luzia (Lucy Alves) e teve duas
filhas, sem sonhar que é pai de Miguel (Gabriel Leone). Estes jovens são
a nova geração. Representam esse “admirável mundo novo”, na visão do
diretor, e as diferentes possibilidades que nos serão apresentadas
diariamente de como lidar com a terra, a água e toda a questão
ambiental. São jovens formados com uma nova mentalidade, ligados à
natureza, que têm conhecimento dos processos e das novas tecnologias.
Diante desta dualidade, a grande história de amor de Santo (Domingos
Montagner) e Maria Tereza (Camila Pitanga) é retomada. A separação
imposta no passado não é capaz de aplacar o desejo de nenhum dos dois. O
amor é maior do que tudo. E os conflitos de décadas são colocados à
prova quando a verdade é revelada. “Este romance, ainda tão condenado
pela diferença de classes entre Maria Tereza e Santo, será o fio
condutor para esta grande história de amor. E vamos misturar à esse
caldo dramático uma crítica social, muito atual e necessária”, adianta
Luiz Fernando Carvalho.
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