— No confinamento, senti a necessidade de explicar, porque a gente estava ali se conhecendo. Na rua, as pessoas simplesmente me olham. Elas veem e desviam o olhar em seguida ou param de observar quando percebem que eu saquei. Estou acostumado. Mas não chegam perto para falar algo — diz Pedro, que nunca teve sua orientação sexual questionada pelos pais por causa do seu estilo: — Eu vejo esse tipo de comentário mais na internet. Mas acabo levando na brincadeira. Meus pais sempre me entenderam muito bem. Tenho namorada desde os 15 anos, e, mesmo se em algum momento eu me descobrisse homossexual, eles não teriam interferido.
Para o paulista, o estranhamento acontece porque há uma visão limitada de como deve ser um heterossexual:
— Pode não parecer, mas as tradições masculinas oprimem muito os homens, e isso é algo que deveríamos discutir mais. A minha vida inteira eu gostei de tênis, por exemplo. Muitas vezes, eu chegava a uma loja, gostava de um par e o vendedor falava: “Ah, é feminino”. E daí? Uma coisa que eu venho lutando para desconstruir e desmitificar é essa visão única de que homem tem que usar camiseta, ser mais ou menos musculoso e ter aparência máscula.
A primeira vez que Pedro usou roupas femininas foi infância. Mas a consciência do que o ato representa na sociedade só surgiu na adolescência.
— Quando era pequeno, por ser muito magro, às vezes minha mãe comprava camiseta e short na ala para meninas porque não encontrava roupas para mim na masculina. Eu estreei a saia na adolescência, num show de punk rock, por ser um ambiente mais livre e aceitável — lembra Pedro, que, engajado na luta pela quebra de tabus, confessa que também já pintou unhas e usou maquiagem: — Fui emo durante uma época e usava esmalte, lápis nos olhos e franja grande. Não existe preconceito para mim, e, se surgir, eu tento entender e, a partir daí, desconstruí-lo. Uma pessoa não vive livre cheia de censuras.
Apesar disso, o gamer não se considera vaidoso.
— Se eu acordar de um jeito estranho, meio amassado, eu lavo o rosto e saio de casa. Não lembro a última vez que comprei um pente, por exemplo. Quando era criança e fazia propagandas, eu via que o rosto ficava perfeitinho quando passava uma base. Mas nunca consegui fazer sozinho — conta o ex-brother, que tem suas preferências na hora de incrementar a produção: — Lápis eu só uso o preto, tenho medo de passar outra cor, errar e ficar estranho. Pretinho básico sempre funciona. Também gosto dos esmaltes mais escuros. Já usei preto, roxo, que é minha cor favorita, e vermelho. Depende do que tenho à disposição; na verdade, com quem eu pego emprestado...
Embora seu guarda-roupa e seu estilo digam o contrário, Pedro enfatiza que não entende de moda.
— Sempre fui um cara interessado por roupas bacanas, de ir a uma loja, achar algo legal e comprar... Gosto de combinar as coisas. Mesmo porque, sempre me cerquei de amigos que curtem se vestir bem. É muito comum olhar para uma peça e pensar nas melhores formas de usá-las: — detalha ele, que elegeu o look com a blusa do Star Wars e a saia plissada verde como o seu preferido: — Eu amo a série de filmes, tenho até uma tatuagem em homenagem a ela. Quando combina dois mundos meus, o do nerd e o da saia, é incrível! Mas c onheço pouco de alta-costura, tanto que meus ícones fashion são David Bowie, Jaden Smith e Emicida.
O ex-BBB não defende a igualdade entre os gêneros apenas dentro do armário. Fora dele, o jornalista se assume feminista convicto:
— Em casa, eu e minha irmã fomos educados da mesma forma, para cuidar dos próprios objetos, arrumar o quarto, limpar o banheiro, fazer as tarefas. Meus pais queriam que a gente fosse independente. Homens e mulheres podem fazer tudo em casa. Esse papo nem faz mais sentido no mundo moderno.
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