13 de abril de 2015

Escritor uruguaio Eduardo Galeano morre aos 74 anos

  • Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
    O escritor uruguaio Eduardo Galeano na 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura de Brasília, em 2014 O escritor uruguaio Eduardo Galeano na 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura de Brasília, em 2014
Morreu na manhã desta segunda-feira (13), o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, em Montevidéu, aos 74 anos. A informação foi confirmada pela sua editora ao jornal "El País". Ele estava internado em um hospital na capital uruguaia desde sexta-feira e não resistiu à complicações decorrentes de um câncer no pulmão, diagnosticado em 2007.
Sua obra mais conhecida é "As Veias Abertas da América Latina", publicado em 1971, onde Galeano analisa a História da América Latina, desde o período colonial, argumentando contra o que considerava como exploração econômica e política do povo latino-americano pela Europa e pelos Estados Unidos. O livro tornou-se um clássico entre os intelectuais de esquerda da América Latina e o forçou a se exilar na Argentina com o golpe militar no Uruguai em 1973.

Combinando análise política com jornalismo e ficção, Galeano desvendou a alma da América Latina em obras como "Memória do Fogo", trilogia em que dissecava as principais figuras históricas no período colonial do continente, o que lhe rendeu comparações a John Dos Passos e Gabriel García Marquez. A trilogia foi premiada pelo Ministério da Cultura do Uruguai e recebeu o American Book Award (Washington University, EUA) em 1989.



"O Livro dos Abraços" é uma coleção de histórias curtas e muitas vezes líricas, apresentando as visões de Galeano em relação a temas diversos como emoções, arte, política e valores. Fã de futebol, Galeano também escreveu "O futebol ao sol e à sombra", que revisa a trajetória histórica do esporte.  Para o uruguaio, o jogo no campo era como uma performance teatral.  Com a memória como bússola de seu trabalho, o uruguaio esteve na segunda edição da Bienal do Livro e da Leitura de Brasília, no ano passado, para relembrar os 50 anos do golpe militar. No auditório principal do Museu Nacional de Brasília, o escritor leu, diante de mil de pessoas, entre outros contos, "Agosto 30. Dia dos Desaparecidos", que classificou como "os mortos sem tumbas, as tumbas sem nome".

Na ocasião, ele afirmou que "Veias Abertas" pretendia ser um livro de economia política. "Mas eu não tinha o treinamento e o preparo necessário". Ele acrescentou que "eu não seria capaz de reler esse livro; cairia dormindo. Para mim, essa prosa da esquerda tradicional é extremamente árida, e meu físico já não a tolera."

Em 2012, passou seis meses internado, enquanto lançava seu 16° livro, "Os Filhos dos Dias", que tem referências a vários países da América Latina, detidos-desaparecidos e críticas à Igreja e ao FMI.

Trajetória
Escritor, jornalista e ensaiísta, Eduardo Germán María Hughes Galeano nasceu em 3 de setembro de 1940 e era considerado uma das maiores referências da esquerda latino-americana.

Na juventude, trabalhou como operário, pintor, mensageiro e bancário, entre outras ocupações. Galeano começou sua carreira de jornalista como caricaturista e cronista. Já nos anos 1960, chegou a editor do jornal "Marcha".

Sua principal obra, "As Veias Abertas da América Latina", foi publicada em 1971. Em 1973, como o golpe militar que tomou o poder no Uruguai, ele foi preso e obrigado a deixar o país e sua obra foi censurada pelas ditaduras do Uruguai, Argentina e Chile.

Galeano exilou-se primeiro na Argentina, de onde teve que sair após o golpe também naquele país, e depois na Espanha. Ele só retornou ao Uruguai em 1985, após a redemocratização, e fez parte da comissão pela revogação da lei que impedia o julgamento dos crimes cometidos pelo regime militar em seu país.

Em 2007, Galeano teve que se submeter a uma cirurgia para tratar um câncer no pulmão.

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