Luiz Carlos d’Ugo Miele
morreu nesta quarta-feira, 14, aos 77 anos.
Reconhecido como um dos maiores
showman
brasileiros, sua trajetória profissional contribuiu para moldar a
maneira como os espetáculos musicais e programas de televisão evoluíram
em cadeia nacional. Desde sua estreia, na TV Continental, em 1965, Miele
atuou energicamente na produção de alguns dos maiores sucessos do
entretenimento televisivo das mais diversas emissoras. Em quase 65 anos
de carreira, ele foi também uma figura importante para estruturar
consagrados artistas da música brasileira a partir de produções
grandiosas.

Seu primeiro trabalho foi em uma rádio em São Vicente, aos 14 anos (Reprodução)
Miele
começou a atuar como assistente de estúdio no programa “Teledrama Três
Leões”, da TV Paulista, no início da década de 1950. Em 1959, mudou-se
para o Rio de Janeiro, para trabalhar na TV Continental, onde evoluiu
para diretor de estúdio e assistente de direção. Em entrevista para o
site Memória Globo, Miele explicou que depois que a situação da emissora
melhorou, ele deixou o bairro do Catete, onde dividia um apartamento
com outros seis rapazes, para morar em Ipanema. A mudança permitiu que
ele se aproximasse dos principais intelectuais cariocas, o que depois
originou a criação do “Documentário de Arte” na emissora.

Miele ao lado de Elis Regina (Reprodução)
Em
1950, Miele conhece uma importante figura em sua trajetória
profissional: Ronaldo Bôscoli. Repórter da revista Manchete, ele era um
dos nomes mais envolvidos na divulgação da bossa nova e permitiu que
Miele se aproximasse dos mais importantes nomes da música da época. Um
ano depois do encontro, Miele criou o programa “Noite de Fala”, na TV
Rio, para onde conseguiu levar nomes como Silvinha Telles e João
Gilberto.

Miele foi compositor, intérprete e produtor de grandes artistas (Reprodução)
Com
o sucesso na televisão, Bôscoli convidou Miele para organizar a
produção de shows no Beco das Garrafas, grande reduto da música
nacional, onde se apresentavam artistas como Sérgio Mendes, Tamba Trio,
Elis Regina e Wilson Simonal. Não demorou muito para que a dupla se
tornasse uma das mais importantes do show business brasileiro,
trabalhando com os artistas mais renomados da época, como a própria Elis
Regina e Roberto Carlos.

Ao lado de Pelé e Roberto Carlos (Reprodução)
Seu
retorno para a televisão aconteceu em 1965, quando produziu, ao lado de
Bôscoli, o “Alô, Dolly”, para a Rede Globo. “Dick & Betty 17” e “Um
Cantor por Dez Milhões, Dez Milhões por uma Canção” foram outras
atrações musicais que estrearam na emissora e alcançaram grande sucesso
de audiência. Além do envolvimento com a música, Miele migrou para
outros canais nos anos seguintes, produzindo quase uma dezena de
programas, como “Cara & Coroa”, da TV Rio, “Os 7 Pecados”, da TV
Excelsior, e “O Fino da Bossa”, da TV Record.
Estreia como apresentador

No ar em “Mister Show”, seu primeiro trabalho como apresentador (Cedoc/TvGlobo)
Miele
saiu de trás da câmeras em 1970, quando voltou para a Globo para
apresentar “Mister Show”, substituindo Agildo Ribeiro. Além do trabalho
no palco, ele continuou dirigindo especiais na televisão: produziu dois
programas com Elis Regina, em 1971 e 1972; criou o “Viva Marília”, com
Marília Pêra, também em 1972; e compôs a música de abertura para o “Show
da Girafa”, programa de variedades de Murilo Néri e Sandra Bréa.
Musicais
Miele
e Ronaldo Bôscoli também trabalharam juntos na criação dos famosos
musicais do “Fantástico”, que estrearam em 1973. Em 1976, ele voltou
para a frente das câmeras com o musical “Sandra & Miele”, onde
dividia o palco com Sandra Bréa em histórias inspiradas em filmes de
Hollywood e shows da Broadway.
Humorista

Miele em “Praça da Alegria” (Cedoc/TV Globo)
O
lado cômico de Miele pode ser visto na televisão na década de 1970. Ele
fez participações em “Faça Humor, Não Faça Guerra”, “Satiricom” e
“Planeta dos Homens”. Ele também fez alguns monólogos no “Fantástico”,
aparecia no banco da “Praça da Alegria”, e dirigiu o especial “Raul
Solnado – O Descobrimento do Brasil”, estrelado pelo humorista
português.
Apresentador e ator

Miele com as bailarinas do programa “Coquetel” (Reprodução/SBT)
Nos
anos seguintes, Miele voltou a trabalhar na frente das câmeras e foi
apresentador dos festivais de música MPB 80 e MPB Shell 81, um dos
convidados para apresentar o “Show do Mês”, em 1981, e comandou, no ano
seguinte, a “Batalha dos Astros”, em que famosos disputavam partidas de
jogo-da-velha.
Em 1985 trabalhou no “Miele & Cia” e “Ele &
Ela”, ambos da TV Manchete. Em 1992, estrou no SBT com o sucesso
“Cocktail”. Depois de sair da televisão para filmar “O Homem Nu”, de
Hugo Carvana, voltou para a TV Educativa do Rio em 2002, onde apresentou
“A Vida É Um Show”.

Na novela “Geração Brasil” (Reprodução/TvGlobo)
Em
2005, ele atuou na televisão como o advogado Wexler, do seriado
“Mandrake”, baseado nos contos de Rubem Fonseca. Em 2008, participou de
um episódio do seriado “Casos & Acasos” e, em 2011, de “Tapas &
Beijos”. No ano seguinte, atuou em “O Brado Retumbante”, na pele de um
político corrupto. Em 2014, interpretou o milionário Jack Parker na
novela “Geração Brasil”.
Outras artes

No musical “O Mágico de Oz”, produzido em 2012 (Divulgação)
Luiz
Carlos Miele também foi o apresentador oficial do Moliére, maior prêmio
do teatro brasileiro, por dez anos. Além disso, foi compositor e gravou
com Cauby Peixoto e Elis Regina. Nos palcos, se apresentou como crooner
da Rio Jazz Orquestra e no espetáculo “Benção Bossa Nova”, ao lado de
Roberto Menescal e Wanda Sá.
Miele lançou o livro “Poeira de
Estrelas: Histórias de Boemia, Humor e Músicas” em 2004 e o DVD “Miele,
um Showman Brasileiro” no ano seguinte. No cinema, além de atuar em “O
Homem Nu”, ele participou de “A Casa da Mãe Joana”, de Hugo Carvana, de
“As Aventuras de Agamenon, o Repórter”, de Victor Lopes, e de “Os
Penetras”, de Andrucha Waddington.
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