
Cenas de “Babilônia''
A
intensa campanha de lançamento e o eletrizante capítulo de estreia de
“Babilônia” produziram uma expectativa enorme em relação ao retorno de
Gilberto Braga ao horário nobre da Globo. A decepção que se seguiu foi,
proporcionalmente, gigante.
“Babilônia” sofreu por suas qualidades
e defeitos. Seus principais trunfos – os temas polêmicos que abordou –
desagradaram parte do público, levando a Globo a exigir mudanças na
novela. Por outro lado, a história se revelou pobre, sem grandes
atrativos para ser seguida.
Esta combinação de problemas resultou,
como era possível imaginar, em queda de audiência. “Babilônia” começou a
cair no Ibope e a perder, com freqüência, para a novela das 19h30, “I
Love Paraisópolis” – uma “humilhação diária”, nas palavras do autor.
Objetivamente,
a novela termina como um “fracasso”. Tanto do ponto de vista de
audiência quanto de recepção crítica, não há outra palavra para definir o
resultado em seu conjunto. Seria injusto, porém, ignorar vários
aspectos positivos de “Babilônia” – temas, personagens e situações que
merecem ser lembrados.
Cito abaixo cinco bons momentos da novela
também assinada por Ricardo Linhares e João Ximenes Braga. Caso você se
lembre de outros, fique à vontade para comentar.
O beijo:
Talvez a cena mais polêmica de “Babilônia”, exibida no primeiro bloco
do capítulo de estreia. O beijo entre Teresa (Fernanda Montenegro) e
Estela (Nathalia Timberg) procurou passar a ideia de que aquele casal de
idosas mantinha uma relação amorosa como outra qualquer. Parte do
público, porém, entendeu a cena como uma agressão. O cartunista Ziraldo
criticou Fernanda por “fazer apologia do afeto homossexual”. A atriz
Regina Duarte considerou “precipitada” a forma como foi colocado o
beijo, logo no primeiro capítulo. As duas ainda se casaram, mas, tirando
um selinho, nunca mais se beijaram na boca na novela.
Religião e política:
Por meio de dois personagens evangélicos, Aderbal Pimenta (Marcos
Palmeira) e sua mãe, Consuelo (Arlete Salles), “Babilônia” discutiu um
tema contemporâneo, a confusão entre religião e política. Aderbal
representou o prefeito de uma pequena cidade, Jatobá. Populista, se fez
passar por homem simples, tentando esconder da população que era rico.
Despudoradamente corrupto, fez negócios escusos com parentes e
empreiteiras. Infiel, traiu a esposa com várias mulheres. Consuelo
o orientava do ponto de vista moral, com pensamentos racistas e
homofóbicos. A hipocrisia de ambos causou desconforto.
O amoral:
Murilo (Bruno Gagliasso) foi um dos melhores personagens de “Babilônia”
até se perder e virar um psicopata obcecado por matar o irmão de
criação, Vinicius (Thaigo Fragoso). Ele vivia como agenciador de garotas
de programa para homens ricos. Também lidava com pequenos traficantes
de drogas e, bom de lábia, enganava a todos. Dissimulado, se fazia de
vítima para a mãe, Olga (Lu Grimaldi) e para a namorada, Alice (Sophie
Charlotte). Enquanto não foi podado pelos autores, Murilo permitiu a
Gagliasso viver um grande papel na TV.
Homofobia:
Outra trama a sofrer percalços, a história de Ivan (Marcello Melo Jr.),
ainda que modificada, permitiu ao público enxergar o preconceito
arraigado contra homossexuais. Negro, morador do Babilônia e gay
assumido, Ivan foi severamente hostilizado por outros personagens. Na
reta final, os autores mostraram o seu atribulado romance com Sergio
(Claudio Lins), um personagem que não tinha coragem de revelar a sua
homossexualidade.
Advogada negra:
Ao ser promovida a sócia do escritório de Teresa, a advogada Paula
(Sheron Menezzes) disse: “Sabe o que eu queria fazer com esse cheque?
Esfregar na cara de todas as pessoas que riram de mim por eu ter entrado
na faculdade pelo sistema de cotas''. A promessa de uma interessante
personagem, porém, não se cumpriu. Paula deixou de morar no morro da
Babilônia e se mudou para o “asfalto”, mas a sua história, como outras,
não se desenvolveu e ficou pela metade do caminho.
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